Um dia fomos assim. Sens&iacute;veis ao frio num dia de inverno, guelras na &aacute;gua. Espont&acirc;neos salt&aacute;mos, no feno, no algod&atilde;o, e l&aacute; fora chovia. A av&oacute; sorriu com os olhos, o brilho foi sincero e os brincos, duas p&eacute;rolas penduradas. O corpo de algod&atilde;o ca&iacute;a na relva, o navio passava. Tirei os sapatos e senti o calor do tapete.

Catarina Os&oacute;rio de Castro &eacute; uma caminhante incans&aacute;vel. O ensaio est&eacute;tico a que se prop&otilde;e &eacute; a manifesta&ccedil;&atilde;o de uma condi&ccedil;&atilde;o simultaneamente emotiva e espiritual. A contempla&ccedil;&atilde;o da paisagem torna-se num ve&iacute;culo para uma experi&ecirc;ncia que a transcende. Pensar a paisagem, para autora, &eacute; um exerc&iacute;cio de aten&ccedil;&atilde;o renovada. O esfor&ccedil;o de um olhar sem preconceitos em busca de um c&oacute;digo oculto e propicio a encontros secretos.

Catarina, fotografa o mar e a sua ac&ccedil;&atilde;o sobre o ambiente. Nas suas imagens, o mar transforma-se num s&iacute;mbolo din&acirc;mico da vida. De uma vida infinita e ilimitada. &Eacute; um lugar de come&ccedil;os, transforma&ccedil;&otilde;es e renascimentos. O compasso desordenado do mar sobre a rocha, deixa para tr&aacute;s um rasto de registos formais, que nos remete para um lugar comum, o corpo. Um corpus imag&eacute;tico masculino e feminino. Os elementos constituintes da paisagem s&atilde;o simbolicamente isolados com vista &agrave; elabora&ccedil;&atilde;o de uma intensa e epopeica viagem. Uma viagem at&eacute; a um tempo primordial. &Agrave;s origens do Mundo.

Maria M. Gomes

Num estranho submundo, encontro monstros que se estendem &agrave; beira-mar. T&ecirc;m vida ou est&atilde;o mortos? Relembram naufr&aacute;gios da &eacute;poca dos descobrimentos...ou s&atilde;o corpos sem identidade, resultado de expedi&ccedil;&otilde;es lunares? T&ecirc;m vida! Assim como as rochas que se deleitam sobre o mar h&aacute; milh&otilde;es de anos, esp&iacute;ritos imortais e sagrados, que o tempo, o mar e o vento construiu desde a origem do mundo. Seres inanimados sem vida e com mais vida do que qualquer outro ser. Afinal, tudo tem vida.
Nas encostas rochosas do mar, continuo a minha explora&ccedil;&atilde;o mar&iacute;tima, &agrave; procura de corpos escult&oacute;ricos, cores vivas, texturas, formas diversas, lugares que nunca vi e que o homem parece n&atilde;o conhecer, a presen&ccedil;a do mar, do esp&iacute;rito dos seres que comunicam somente no sil&ecirc;ncio.
Descida da nave espacial, encontro formas que se desdobram na natureza, t&ecirc;m outro tempo, outro passo, muito lento. Respiram sem darmos conta, movem-se sem as vermos, transformam-se sem termos tempo para as ver transformar-se. S&atilde;o simplesmente, s&atilde;o sem esfor&ccedil;o, s&atilde;o somente sopro.&nbsp;
Imortalidade. Somos seres imortais.&nbsp;